Publicado em textos autorais

Eu sabia que tinha chegado o momento de matar o passado e voltar à vida

Comprei uma passagem só de ida para o outro lado do oceano. A hora de ir embora desse lugar chegou cinco anos antes do previsto, me mostrando que preciso encerrar esse ciclo e me preparar para o próximo. O recomeço que me chama suavemente como um sussurro de “é por aqui, vai ficar tudo bem”, aponta que na verdade o meu caminho não é navegando de um porto à outro como pensei, mas sim descobrindo o que o final de um túnel desconhecido me trará. Será que as respostas que preciso estão nele? Talvez sim, talvez não.

Foi atracada nesse porto vendo o fluxo de cargas passar na minha frente que cresci como ser humano. No escritório analisando o domínio e comportamento de funções perto de um determinado ponto amadureci, notei que a realidade que eu queria era além disso tudo e era em outro lugar. Sorri e chorei quando me senti perdida em meio aos contêineres tachados como rotina – era o meu pesadelo se tornando realidade. E quando finalmente saí desse labirinto onde eles estavam dispostos aguardando o carregamento, conheci uma versão madura e melhor de mim mesma. Eu me redescobri em meio as fórmulas matemáticas e definições físicas, desbravei minha essência na tentativa de programar minha vida em pseudocódigo e posteriormente em C. Na área de uma curva, onde a reta tangente encosta num único ponto foi que o meu vetor chamado sonho mudou de direção e sentido até achar o meu verdadeiro eu, e pra isso acontecer, ele precisou seguir caminhos revestidos de conhecimento de como a siderurgia, o tratamento de efluentes, ferro, aço e o layout de um terminal portuário funcionavam.

Eu sinto muito além do que essa realidade permite. O navio – mal projetado por mim, carregado com minhas frustrações e expectativas quebradas estava afundando, e eu estava na sala de máquinas querendo morrer junto. Porém descobri que me salvar não era um ato de egoísmo, era um ato heróico, então corri e decidi abandoná-lo para tentar algo novo, me permiti ser telespectadora de seu naufrágio e apenas respirar fundo.

Afinal, no meio do mar sozinha num bote salva(r)-minha-vida, só eu conheço o mapa até aqui e eu sei que não preciso mais visitar esses destroços pois eu vejo terra e vida nova à vista – tudo isso a palmos de distância.


 

PS: O título do texto é um trecho da musica Coming Back to Life do Pink Floyd. Fica a sugestão 🙂

 

 

Autor:

Vegetariana, pseudo-fotógrafa e de vez em quando escritora. Apaixonada por chá quentinho e vídeos de cabras de pijama.

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